Primeiro capitulo...

11-08-2010 23:19

Leia agora o primeiro capitulo do livro The lost hero

 

 

 

 

 

 

 

JASON I

Antes mesmo de ter sido eletrocutado, Jason estava tendo um dia podre.

Ele acordou no banco traseiro de um ônibus escolar, sem ter certeza de onde estava, segurando a mão de uma garota que ele não conhecia. Essa não era necessariamente a parte podre. A menina era bonita, mas ele não conseguia entender quem ela era ou o que ela estava fazendo ali. Ele se sentou e esfregou os olhos, tentando pensar.

Umas poucas dúzias de crianças espalharam-se pelos bancos em frente ao dele, ouvindo seus iPods, conversando, ou dormindo. Todos eles pareciam ter sua idade… Quinze? Dezesseis? Ok, isso era assustador. Ele não sabia sua própria idade.

O ônibus trafegava por uma estrada esburacada. Do lado de fora das janelas, passava o deserto, debaixo de um brilhante céu azul.

Jason estava certo que ele não morava no deserto. Ele tentou pensar novamente… a última coisa que ele lembrava…

A garota apertou sua mão. “Jason, você está bem?”

Ela usava jeans desbotados, botas de caminhada, e uma jaqueta de lã de snowboard. Seu cabelo castanho-chocolate era cortado de forma desigual, com os lados trançados para baixo. Ela não usava maquiagem, como se ela estivesse tentando não chamar atenção para si mesma; mas não funcionou. Ela era realmente bonita. Seus olhos pareciam mudar de cor como em um caleidoscópio – marrom, azul, e verde.

Jason soltou a mão dela. “Hum, eu não –”

Na parte da frente do ônibus, um professor gritou “Está bem, queridinhos, ouçam!”

O garoto obviamente era um treinador. Seu boné de beisebol estava afundado na cabeça, deixando a vista somente seus olhos lustrosos. Ele tinha uma barbicha rala e uma cara azeda, como se tivesse comido algo mofado. Seus braços castanhos e peito vestindo uma radiante camisa pólo laranja. Suas calças de treino de náilon e seus Nikes estavam imaculadamente brancos. Usava um apito pendurado no pescoço, e um megafone estava preso ao seu cinto. Ele teria parecido bastante assustador se não tivesse apenas um metro e meio de altura. Quando ele se levantou no corredor, um dos estudantes gritou “Levante-se, técnico Hedge!”

“Eu ouvi isso!” O treinador examinou o ônibus atrás do ofensor. Então seus olhos fixaram-se em Jason e sua carranca se aprofundou.

Uma sacudida desceu pela coluna de Jason. Ele estava certo de que o treinador sabia que ele não pertencia aquele lugar. Ele estava indo chamar Jason, perguntar o que ele estava fazendo no ônibus – e Jason não saberia o que dizer.

Só que o Treinador Hedge olhou para longe e pigarreou. “Chegaremos em cinco minutos! Permaneçam com sua dupla. Não percam suas planilhas. E se um de vocês preciosos pequenos queridinhos causarem qualquer problema nessa excursão, eu vou pessoalmente mandá-los de volta para o campus do jeito difícil.”.

Ele pegou um taco de basebol e fez como se estivesse batendo em um pombo-correio.

Jason olhou para a garota ao seu lado. “Ele pode falar conosco desse jeito?”.

Ela deu de ombros. “Ele sempre fala. Essa é a Wilderness School, ‘Onde crianças são os animais’”.

Ela falou como se fosse uma piada que tinham partilhado antes.

“Isso é um algum tipo de engano,” Jason falou. “Eu não devia estar aqui”.

O garoto que estava a sua frente virou e riu. “Sim, certo, Jason. Todos nós fomos enquadrados! Eu não fugi seis vezes. Piper não roubou uma BMW.”

A garota corou. “Eu não roubei esse carro, Leo!”

“Oh, eu esqueci, Piper. Qual foi a sua história? Você ‘jogou conversa’ para o vendedor emprestar para você?” Ele levantou as sobrancelhas para Jason como se dissesse, Você acredita nela?

Leo parecia um elfo latino do Papai Noel, com cabelos pretos encaracolados, orelhas pontudas, uma cara alegre, infantil, e um sorriso travesso que lhe disse logo: esse cara não deve ser confiável na presença de fósforos ou objetos cortantes. Seus dedos longos e ágeis não paravam de se movimentar – batucando no banco, colocando o cabelo atrás das orelhas, brincando com os botões do paletó de farda de exército. Ou o garoto era naturalmente hiperativo ou se entupiu de bastante açúcar e cafeína o suficiente para dar um ataque cardíaco a um búfalo.

“De qualquer forma,” disse Leo, “Eu espero que esteja com a sua planilha, porque eu usei a minha para fazer bolas de cuspe a dias atrás. Por que você está me olhando assim? Alguém desenhou na minha cara de novo?”

“Eu não te conheço”, Jason disse.

Leo deu-lhe um sorriso de crocodilo. “Claro. Não sou seu melhor amigo. Eu sou o clone mau dele.”

“Leo Valdez!” Treinador Hedge gritou da frente. “Algum problema aí atrás?”

Leo piscou para Jason. “Assista essa.” Ele virou-se para frente. “Desculpe-me, Treinador! Eu estava tendo problemas para te escutar. Você pode usar seu megafone, por favor?”

O Treinador Hedge grunhiu como se ele estivesse feliz por ter uma desculpa. Ele tirou o megafone do seu cinto e continuou a dar orientações, mas sua voz saiu como a de Darth Vader. As crianças caíram na gargalhada. O treinador tentou novamente, mas desta vez o megafone bradou: “A vaca diz moo!”

Os garotos gritaram, e o treinador bateu o megafone. “Valdez!”

Piper abafou um riso. “Meu Deus, Leo. Como você fez isso?”.

Leo deixou uma pequena chave de fenda Phillips cair de sua manga. “Sou um garoto especial.”.

“Gente, é sério,” Jason confessou. “O que estou fazendo aqui? Para onde estamos indo?”

Piper arqueou suas sombrancelhas. “Jason você está brincando?”

“Não! Eu não tenho idéia –“

“Ah, sim, ele está brincando,” Disse Leo. “Ele está tentando descontar daquela vez que tinha creme de barbear na Jell-O, não é?”

Jason olhou para ele sem expressão.

“Não, eu acho que ele está falando sério”. Piper tentou pegar sua mão novamente, mas ele a puxou.

“Me desculpe,” Ele disse. “Eu não – Eu não posso –“

“É isso aí!” Coach Hedge gritou pela frente. “A fila  de trás acabou de se oferecer para limpar a bagunça depois do almoço!”

O resto dos garotos aplaudiram.

“Isso é chocante”, Disse Leo.

No entanto, Piper manteve seus olhos em Jason, como se ela não pudesse se decidir se estava machucada ou preocupada. “Você bateu a cabeça ou algo assim? Você realmente não sabe quem somos?”

Jason deu com os ombros, impotente. “É pior do que isso. Eu não sei quem eu sou.”

O ônibus deixou-os na frente de um grande complexo de estuque vermelho parecido com um museu, localizado no meio do nada. Talvez isto é o que é: o Museu Nacional de Meio do Nada, Jason pensou. Um vento frio soprava do deserto. Jason não tinha prestado muita atenção ao que ele estava usando, mas não era nem perto de ser quente o suficiente: jeans e tênis, uma camiseta roxa, e um blusão preto fino.

“Então, um curso intensivo para amnésia,” Leo disse, em um tom prestativo que levou Jason a pensar que não ajudaria em nada. “Nós frequentamos a ‘Wilderness School’” – Leo fez as aspas no ar com os dedos. “O que significa que somos ‘crianças más’. Sua família ou o órgão responsável por você decidiram que você era muito problemático, então te mandaram para esta adorável prisão – me desculpe, ‘internato’ – em Armpit, Nevada, na qual você aprende valiosas habilidades naturais como correr dez quilômetros por dia, através dos cactos e tecelagem de margaridas em chapéus! E para um tratamento especial nós vamos à viagens ‘educacionais’ de campo com o Treinador Hedge que mantém a ordem com um taco de basebol. Está tudo voltando para você agora?”

“Não.” Jason olhou apreensivamente para as outras crianças: vinte garotos, talvez, e a metade deste número de garotas. Nenhum deles parecia ser criminosos perigosos, só que ele imaginou o que eles teriam feito para serem sentenciados a uma escola para delinqüentes e imaginou por que ele pertencia a este grupo.

Leo revirou os olhos. “Você realmente vai continuar com isso, não é? Ok, então nós três entramos aqui juntos este ano. Nós somos bem próximos. Você faz tudo o que eu digo e me dá sua sobremesa e faz meus deveres…”

“Leo!”, Piper vociferou.

“Está bem. Ignore esta última parte. Mas nós somos amigos. Bom, Piper é um pouco mais do que sua amiga nas últimas semanas –“

“Leo, pára com isso!” O rosto de Piper ficou vermelho. Jason também podia sentir seu rosto queimando. Pensou que se lembraria se estivesse saindo com uma garota como a Piper.

“Ele está com amnésia ou algo do tipo.” Piper disse. “Nós temos que contar a alguém.”

Leo zombou. “Quem, o Treinador Hedge? Ele tentaria curar o Jason batendo no topo da sua cabeça.”

O treinador estava na frente do grupo, gritando ordens e assoprando seu apito para manter as crianças na fila, mas, de vez em quando, ele olhava para Jason e franzia as sobrancelhas.

“Leo, Jason precisa de ajuda.” Piper insistiu. “Ele teve uma concussão ou…”

“E aí, Piper.” Um dos outros meninos ficou para trás para se juntar aos três enquanto a turma se dirigia para o museu. O garoto novo se espremeu entre Jason e Piper e derrubou Leo. “Não fale com estes perdedores. Você é minha parceira, lembra-se?”

O novo rapaz tinha cabelos escuros cortado ao estilo do Super-Homem, era bem bronzeado, e tinha dentes tão brancos que eles deveriam vir com uma placa de recomendação: não olhe diretamente para os dentes, pode causar cegueira permanente. Ele vestia um casaco dos Dallas Cowboys, calças jeans e botas ao estilo faroeste, e ele sorria como se fosse um presente de Deus para todas as meninas delinqüentes de todo lugar. Jason odiou-o instantaneamente.

“Vá embora, Dylan.”, Piper resmungou. “Eu não pedi para trabalhar com você.”

“Ah, não seja assim. Hoje é o seu dia de sorte!” Dylan enganchou seu braço no de Piper e a arrastou pela entrada do museu. Piper deu uma última olhada por sobre o ombro, como se fosse um pedido de ajuda urgente.

Leo se levantou e se limpou. “Eu odeio esse cara.” Ele ofereceu seu braço a Jason, como se eles fossem entrar juntos pulando. “Eu sou o Dylan. Eu sou tão legal, eu gostaria de namorar comigo mesmo, mas eu não consigo descobrir como! Você quer sair comigo, então? Você tem tanta sorte!”. “Leo,”, Jason disse, “você é estranho.”

“É, você me diz isso bastante.” Leo sorriu largamente. “Mas se você não se lembra de mim, isso significa que eu posso recontar todas as minhas piadas antigas. Vamos lá!”

Jason deduziu que, se este era seu melhor amigo, sua vida devia ser uma bagunça, mas ele seguiu Leo para dentro do museu.

Eles caminharam para dentro do prédio, parando aqui e ali para o treinador Hedge lhes dar um sermão com o seu megafone, que alternadamente o fazia parecer um lorde Sith ou soltava comentários aleatórios com “o porco diz oink”.

Leo continuava tirando porcas de parafusos, pregos, limpadores de cachimbo do bolso e juntando-os, como se ele tivesse que manter suas mãos ocupadas o tempo todo.

Jason estava distraído demais para prestar muita atenção para as exposições, mas elas falavam do Grand Canyon e da tribo Hualapai, que era dona do museu.

Algumas garotas continuavam olhando para Piper e Dylan e rindo baixinho. Jason deduziu que estas garotas eram do grupo das populares. Elas usavam calças jeans combinando, blusas rosa e tanta maquiagem que elas poderiam ir a uma festa de Dia das Bruxas.

Uma delas disse “Ei, Piper, a sua tribo cuida desse lugar? Você entra de graça se fizer a dança da chuva?”

As outras garotas riram. Até o assim dito parceiro da Piper, Dylan, suprimiu um sorriso. O casaco de snowboard de Piper escondeu suas mãos, mas Jason teve a sensação de que ela tinha cerrado seus punhos.

“Meu pai é Cherokee”, ela disse, “e não Hualapai. Mas é claro, você precisaria de alguns neurônios para saber a diferença, Isabel.”

Isabel abriu os olhos em uma surpresa irônica, de maneira que fez ela parecer uma coruja maquiada. “Ah, desculpe-me. A sua mãe era dessa tribo? Ah, é verdade. Você nunca conheceu sua mãe.”

Piper avançou sobre ela, mas antes que uma briga pudesse começar, o treinador Hedge vociferou “Já chega, vocês aí atrás! Sejam um bom exemplo ou eu vou pegar o meu taco de baseball!”. O grupo prosseguiu para a próxima exposição, mas algumas meninas continuaram soltando pequenos comentários para Piper.

“É bom estar de volta à reserva?”, uma perguntou com uma voz doce.

“O pai deve estar bêbado demais para trabalhar”, outra disse com um pesar falso. “É por isso que ela se tornou cleptomaníaca”.

Piper as ignorava, mas Jason estava pronto para socá-las. Ele poderia não se lembrar de Piper e nem de quem ele era, mas ele odiava crianças más. Leo segurou seu braço. “Fique calmo. Piper não gosta que lutemos suas batalhas por ela. Além disso, se essas garotas descobrissem a verdade sobre o pai dela, elas estariam todas reverenciando-a e gritando ‘nós não somos merecedoras!’”

“Por quê? O que tem o pai dela?”

Leo riu, sem acreditar. “Você não está brincando? Você realmente não se lembra de que o pai da sua namorada…”

“Olha, eu queria lembrar, mas eu nem mesmo me lembro dela, muito menos de seu pai.”

Leo assobiou. “Tanto faz. Nós temos que conversar quando voltarmos ao dormitório.”

Eles chegaram ao final da sala de exibições, onde grandes portas de vidro levavam a um terraço.

“Tudo bem, queridinhos.”, o treinador Hedge anunciou. “Vocês estão prestes a ver o Grand Canyon. Tentem não quebrá-lo. O observatório agüenta o peso de setenta jatos, então vocês, pesos-pena, devem estar seguros lá. Se possível, evitem empurrar uns aos outros por sobre a cerca, porque isso me daria mais papelada pra preencher.”

O treinador abriu as portas e todos saíram. O Grand Canyon se estendia diante deles, ao vivo e em pessoa. Além da beira se abria uma passarela em forma de ferradura feita de vidro, de forma a permitir que você possa ver através dela.

“Cara”, Leo disse. “Isso é muito louco.”

Jason tinha de concordar. Apesar de sua amnésia e de sua sensação de que ele não pertencia àquele grupo, ele não podia evitar ficar impressionado.

O desfiladeiro era maior e mais largo do que se poderia imaginar por uma foto. Eles estavam tão alto que pássaros voavam abaixo deles. Quinhentos pés abaixo, um rio serpenteava ao longo do pé do desfiladeiro. Bancos de nuvens de tempestade haviam se movido ao alto enquanto eles estavam dentro do museu, lançando sombras que pareciam rostos zangados sobre o penhasco. Até onde Jason podia ver em qualquer direção, ravinas vermelhas e cinzas cortavam o deserto como se um Deus louco tivesse cortado o deserto com uma faca.

Jason sentia uma dor perfurante atrás dos olhos. Deuses loucos… De onde ele tirou essa idéia? Ele sentia como se tivesse chegado perto de algo importante – algo que ele devia saber. Ele também tinha a inequívoca sensação de que ele estava em perigo.

“Você está bem?”, Leo perguntou. “Você não vai vomitar por cima da cerca, vai? Porque eu deveria ter trazido minha câmera.”

Jason se apoiou na grade. Ele estava tremendo e suando, mas não tinha nada a ver com altura. Ele piscou e a dor atrás dos olhos melhorou um pouco.

“Eu estou bem”, ele disse. “É só uma dor de cabeça.”

Trovões estrondavam acima deles. Um vento frio quase o derrubou de lado

“Isto não pode ser seguro.” Leo lançou um olhar furtivo para as nuvens. “A tempestade está bem acima de nós, mas o céu está limpo ao nosso redor. Estranho, não?”

Jason olhou para cima e viu que Leo estava certo. Um círculo de nuvens escuras havia se estacionado em cima do observatório, mas o resto do céu em todas as direções estava perfeitamente limpo. Jason teve um pressentimento ruim sobre isso.

“Tudo bem, molengas!” Gritou o Treinador Hedge. Ele franziu o cenho para a tempestade como se isso o incomodasse muito. “Talvez tenhamos que encurtar o passeio, então mãos a obra! Lembrem-se, frases completas!”

A tempestade rugia, e a cabeça de Jason começou a doer de novo. Sem saber por que fez isso, enfiou a mão no bolso do jeans e de lá tirou uma moeda – um círculo de ouro do tamanho de uma moeda de 50 cents, um pouco mais espessa e mais desigual. Em um dos lados estava estampada a figura de um machado de batalha. No outro estava o rosto de um garoto coberto de louros. A inscrição dizia algo como ivlivs.

“Nossa, isso é ouro?” Leo perguntou. “Você esteve escondendo de mim!”

Jason colocou a moeda longe, se perguntando como ele viria a tê-la, e porque ele sentia que precisaria dela em breve.

“Não é nada” ele disse. “Só uma moeda.”

Leo balançou os ombros. Talvez sua mente tivesse que manter se movimentando tanto quanto suas mãos. “Vamos lá” ele disse. “O desafio a cuspir na beirada”.

Eles não se esforçaram muito na planilha. Por um motivo, Jason estava muito distraído com a tempestade e com os seus próprios sentimentos confusos. Por outro motivo, ele não tinha nenhuma idéia como “nomear três camadas sedimentares que você observa” ou “descrever dois exemplos de erosão”.

Leo não era de muita ajuda. Ele estava muito ocupado construindo um helicóptero de limpadores de cachimbo.

“Confira isso.” Ele lançou o helicóptero. Jason imaginou que iria despencar, mas as lâminas dos limpadores de cachimbo estavam realmente afiadas. O pequeno helicóptero voou pelo desfiladeiro antes de perder a força inicial e cair em espiral no vazio.

“Como você fez isso?” Jason perguntou.

Leo deu de ombros “Poderia ter sido mais legal se eu tivesse alguns elásticos.”.

“Falando sério,” Jason falou, “Nós somos amigos?”.

“Na última vez que eu verifiquei.”

“Você tem certeza? Qual foi o primeiro dia que nós nos encontramos? Do que nós falamos?”

“Foi…” Leo franziu a testa. “Não lembro exatamente. Tenho ADHD, cara. Você não pode esperar que eu me lembre de detalhes.”

“Mas eu não me lembro de nada de você. Não me lembro de ninguém daqui. E se –”.

“Você está certo e todo mundo está errado?” Leo perguntou. “Você acha que só apareceu aqui nesta manhã, e todos nós temos memórias falsas de você?” Uma pequena voz na cabeça de Jason dizia, É exatamente o que eu penso.

No entanto, isso parecia loucura. Todo mundo tinha certeza da presença dele. Todos agiram como se ele fosse uma parte normal da classe – exceto para o Treinador Hedge.

“Pegue a planilha.” Jason entregou o papel para Leo. “eu já volto.”

Antes que Leo pudesse protestar, Jason se dirigiu ao observatório.

O grupo escolar deles tinha o lugar inteiramente para eles mesmos. Talvez fosse muito cedo para turistas, ou talvez o clima estranho tenha assustado todos. As crianças da ‘Wilderness School’ se espalharam em pares em todo o observatório. A maioria estava brincando ou conversando. Alguns garotos estavam jogando moedas de um centavo para além da cerca. A mais ou menos cinqüenta pés de distancia, Piper estava tentando preencher a sua planilha, mas o seu parceiro estúpido, Dylan, estava jogando cantadas nela, colocando a sua mão no ombro da garota e dando-lhe aquele ofuscante sorriso branco. Ela continuava afastando-o, e quando ela viu Jason, olhou para ele como quem diz, Estrangule este garoto para mim.

Jason fez sinal para ela esperar. Ele caminhou até o Treinador Hedge, que estava encostado em seu taco de beisebol, estudando as nuvens de tempestade.

“Você fez isto?” o treinador perguntou para ele.

Jason deu um passo para trás. “Fiz o que?” Soou como se o treinador tivesse acabado de perguntar se ele tinha feito a tempestade.

O Treinador Hedge olhou para ele, seus lustrosos olinhos brilhando sob a aba do boné. “Não brinque comigo, criança. O que você está fazendo aqui e por que está atrapalhando meu trabalho?”

“Você quer dizer que… você não me conhece?” Jason falou. “Não sou um de seus alunos?”

Hedge inspirou. “Nunca tinha visto você até hoje”

Jason estava tão aliviado que quase quis chorar. Pelo menos ele não estava ficando louco. Ele estava no lugar errado. “Olhe, senhor, eu não sei como cheguei aqui. Eu só acordei no ônibus da escola. Tudo que eu sei é que eu não deveria estar aqui.”

“Está certíssimo”. A voz rouca de Hedge caiu para um sussurro, como se ele fosse partilhar um segredo. “Você tem uma maneira poderosa de manipular a névoa, criança, já que você pode fazer todas essas pessoas pensarem que te conhecem; mas você não pode me fazer de tolo. Eu estive farejando um monstro por dias. Eu sabia que nós tínhamos um invasor, mas você não cheira como um monstro. Você cheira como um meio-sangue. Então – quem é você, e de onde você veio?”

A maior parte do que o treinador falou não fazia sentido, mas Jason decidiu responder honestamente. “Não sei quem eu sou. Não tenho nenhuma lembrança. Você tem que me ajudar.”

Treinador Hedge estudou o seu rosto como se estivesse tentando ler os pensamentos de Jason.

“Ótimo,” murmurou Hedge. “Você está sendo verdadeiro”.

”É claro que eu estou! E o que é tudo isso sobre monstros e meio-sangues? São códigos ou alguma coisa assim?“

Hedge estreitou seus olhos. Parte de Jason se perguntou se o cara era só louco. A outra parte, porém, sabia melhor.

“Olhe, garoto,“ Hedge falou, “Eu não sei quem você é. Só sei o que você é, e isso significa problema. Agora eu tenho que proteger três de vocês e não dois. Você é o pacote especial? É isso?”.

“Do que você está falando?“

Hedge olhou para a tempestade. As nuvens estavam ficando mais grossas e mais escuras, pairando diretamente sobre a passarela.

“Essa manhã“, Hedge falou, “recebi uma mensagem do acampamento. Eles disseram que uma equipe de extração está a caminho. Eles estão vindo para pegar um pacote especial, mas eles não deveriam me dar detalhes. Eu pensei por mim mesmo. Os dois que eu estou observando são mais poderosos, mais velhos que a maioria. Eu sei que eles estão sendo perseguidos. Eu posso sentir o cheiro de um monstro no grupo. Eu imaginei que esse era o motivo para de repente o acampamento estar frenético para buscá-los. Então você aparece do nada. Então, você é o pacote especial?”.

A dor atrás dos olhos de Jason ficou pior do que nunca. Meio-sangues. Acampamento. Monstros. Ele continuou sem entender nada do que Hedge estava falando, mas as palavras lhe deram um pesado congelamento nos miolos – como se sua mente estivesse tentando acessar informações que deveriam estar ali, mas não estavam.

Ele tropeçou, e o Treinador Hedge o pegou. Para um cara pequeno, o treinador tinha mãos de ferro.

“Calma lá, molenga. Você disse que não tem lembranças, né? Bem. Eu vou ter que te observar, também, até a equipe chegar aqui. Vamos deixar o diretor descobrir essas coisas“.

“Que diretor?“ Disse Jason. “Que acampamento?”

“Apenas sente. Reforços devem chegar aqui em breve. Espero que nada aconteça antes –”.

Um raio caiu acima de suas cabeças. O vento se manifestou com vingança. Planilhas voaram para dentro do Grand Canyon, e a ponte inteira estremeceu. Crianças gritaram, tropeçando e agarrando os trilhos.

“Eu preciso falar uma coisa,” Hedge resmungou. Ele gritou em seu megafone: “Todo mundo lá dentro! A vaca disse moo! Fora do observatório“

“Achei que você disse que isso era estável!“ Jason gritou por cima do vento.

“Em circunstâncias normais,” Hedge concordou, “quais não são. Vamos!”

 

 

 

 

 

 

JASON II

A tempestade se transformou em um furacão em miniatura.

Um funil de nuvens serpenteava em direção ao observatório como os tentáculos de uma água-marinha monstro.

Crianças gritaram e correram para o prédio. O vento arrancou seus cadernos, jaquetas, chapéus e mochilas. Jason derrapou pelo piso escorregadio.

Leo perdeu o equilíbrio e quase caiu sobre os trilhos, mas Jason agarrou sua jaqueta e puxou ele de volta.

“Obrigado, cara!” Leo gritou.

“Vai, vai, vai!” Disse o treinador Hedge.

Piper e Dylan estavam segurando as portas abertas, agrupando as outras crianças no interior. A jaqueta de snowboard da Piper estava se agitando descontroladamente com o vento, seu cabelo preto estava todo em seu rosto. Jason pensou que ela devia estar congelando, mas ela parecia calma e confiante – falando para os outros que daria tudo certo, encorajando eles a se manterem em movimento.

Jason, Leo e o treinador Hedge correram em direção a eles, mas era como correr em areia movediça. O vento parecia lutar contra eles, os empurrando de volta.

Dylan e Piper empurraram mais uma criança para dentro, e depois perderam o seu domínio sobre a porta. Eles acabaram fechados no observatório. Piper puxou as alças. As crianças que estavam no interior bateram nos vidros, mas as portas pareciam presas.

“Dylan ajude!” Piper gritou.

Dylan só ficou observando, com um sorriso idiota, sua jaqueta dos Cowboys ondulando ao vento, como se ele repentinamente estivesse gostando da tempestade.

“Sinto muito, Piper,” disse ele. “Estou cansado de ajudar”. Ele movimentou rapidamente seu pulso e Piper voou para trás, batendo na porta e deslizando pelo convés do observatório.

“Piper!“ Jason tentou a custo ir para frente, mas o vento estava contra ele, e o Treinador Hedge o puxou para trás.

“Treinador,” Disse Jason, “Deixe-me ir!”.

“Jason, Leo, fiquem atrás de mim,” o treinador ordenou. “Essa é minha luta. Eu deveria saber que era nosso monstro.”

“O que?” Leo demandou. Uma planilha errante bateu em seu rosto, mas ele a afastou. “Que monstro?”.

O boné do treinador foi soprado para longe e acima de seu cabelo crespo estavam dois galos – como aqueles que os personagens de desenho animado ganham quando batem a cabeça. O Treinador Hedge levantou seu bastão de beisebol – mas não era mais um bastão regular. De alguma forma ele tinha se transformado em um bastão de ramo de árvore em forma crua, com ramos e folhas ainda anexados.

Dylan deu a ele o seu sorriso feliz e psicótico. “Ah, vamos lá, treinador. Deixa o garoto me atacar. Afinal, você está ficando muito velho para isso. Não é por isso que eles te trouxeram para esta escola estúpida? Eu estive no seu time a temporada toda e você nem reparou. Você está perdendo seu faro, vovô.”

O treinador fez um som irritado, como um animal balindo. “É isso aí, queridinho. Eu vou te derrubar.”

“Você acha que pode proteger três meio-sangues de uma vez só, velho?”, Dylan riu. “Boa sorte.”

Dylan apontou para Leo e uma nuvem em forma de funil se materializou ao redor dele. Leo voou pelo observatório como se ele tivesse sido arremessado. De alguma forma, ele conseguiu girar no ar e bateu de lado na parede do desfiladeiro. Ele derrapou, procurando desesperadamente por algum apoio para as mãos. Finalmente, ele agarrou uma pequena fenda cerca de 50 pés abaixo da passarela e se segurou com as pontas dos dedos.

“Ajudem-me!”, ele gritou para os outros. “Uma corda, por favor? Um elástico de bungee jump? Alguma coisa?”

O treinador Hedge praguejou e atirou para Jason seu galho. “Eu não sei quem é você, garoto, mas eu espero que você seja bom. Mantenha aquela coisa ocupada” – ele apontou com o dedão para Dylan – “enquanto eu pego o Leo”

“Pegá-lo como?”, Jason perguntou. “Você vai voar?”

“Voar, não. Escalar.” Hedge arrancou seus sapatos e Jason quase teve um enfarte. Ele tinha cascos – cascos de bode. O que significava que aquelas coisas em sua cabeça, Jason compreendeu, não eram galos. Eram chifres.

“Você é um fauno”, Jason disse.

“Sátiro!”, vociferou Hedge. “Faunos são Romanos. Mas nós discutiremos isso depois.”

Hedge pulou a grade. Ele partiu em direção à parede do desfiladeiro e bateu com os cascos primeiro. Ele desceu o penhasco com uma agilidade incrível, encontrando apoios para os pés não maiores do que selos, desviando de redemoinhos que tentavam atacá-lo enquanto ele prosseguia na direção de Leo.

“Isso não é fofo?”, Dylan se virou para Jason. “Agora é a sua vez, garoto.”

Jason atirou o bastão. Pareceu inútil com ventos tão fortes, mas o galho voou direto na direção de Dylan, até curvando quando ele tentava desviar, e bateu na sua cabeça com tanta força que ele caiu de joelhos.

Piper não estava tão estupefata quanto parecia. Seus dedos se fecharam ao redor do galho quando este rolou para perto dela, mas, antes que ela pudesse usá-lo, Dylan se levantou. Sangue – sangue dourado – corria de sua testa.

“Boa tentativa, garoto.” Ele tinha um olhar penetrante para Jason. “Mas você vai ter que fazer melhor.”

O observatório estremeceu. Trincados apareceram no vidro. Dentro do museu, as crianças pararam de bater nas portas. Elas se afastaram, olhando aterrorizadas.

O corpo de Dylan se dissolveu em fumaça, como se suas moléculas estivessem se descolando. Ele tinha o mesmo rosto, o mesmo sorriso branco brilhante, mas todo o seu corpo era repentinamente composto de um vapor preto em espiral, seus olhos pareciam faíscas elétricas em uma viva nuvem de tempestade. Ele abriu asas pretas de fumaça e se elevou acima do observatório. Se anjos pudessem ser maus, Jason pensou, eles pareceriam exatamente com isso.

“Você é um ventus”, Jason disse, apesar de não ter nenhuma idéia de como ele sabia essa palavra. “Um espírito da tempestade.”

A risada de Dylan parecia o som de um tornado arrancando um telhado. “Estou feliz por ter esperado, semideus. Eu sabia de Leo e Piper por semanas. Eu poderia tê-los matado a qualquer momento. Só que minha senhora me disse que havia um terceiro a caminho – alguém especial. Ela vai me recompensar enormemente pela sua morte!”

Duas mais nuvens em forma de funil apareceram de cada lado de Jason e se transformaram em venti – rapazes espectrais com asas de fumaça e olhos que tremeluziam como raios.

Piper se manteve abaixada, fingindo estar aturdida, sua mão ainda segurando o galho. Seu rosto estava pálido, mas ela deu a Jason um olhar determinado e ele entendeu a mensagem: mantenha-os distraídos, baterei neles por trás.

Linda, esperta e violenta. Jason desejava poder se lembrar de tê-la como sua namorada. Ele fechou seus punhos e se preparou para atacar, mas ele nunca teve a chance.

Dylan levantou sua mão com arcos de eletricidade correndo entre seus dedos, e atirou em Jason no peito.

Bang! Jason se viu deitado de costas no chão. Sua boca estava com gosto de lâmina de alumínio queimada. Ele levantou a cabeça e percebeu que suas roupas estavam fumegando. O raio foram direto em sua direção e explodiu seu sapato esquerdo. Seus pés estavam negros de fuligem.

Os espíritos da tempestade estavam rindo. Os ventos enfureciam-se. Piper estava gritando desafiadoramente, mas tudo parecia metálico e distante.

Do canto de seu olho, Jason viu o treinador Hedge escalando o penhasco com Leo nas suas costas. Piper estava de pé, balançando desesperadamente o galho para afastar os dois espíritos de tempestade extras, mas eles estavam apenas brincando com ela. O galho atravessou seus corpos como se eles não estivessem lá. E Dylan, um tornado escuro com asas e olhos, avançou ameaçadoramente em direção a Jason.

“Pare,” Jason persuadiu. Ele se levantou cambaleante, e não tinha certeza de quem estava mais surpreso: ele ou os espíritos de tempestade.

“Como você está vivo?” a forma de Dylan surgiu. “Aquilo tinha eletricidade suficiente para matar vinte homens!”

“Minha vez,” disse Jason.

Ele colocou a mão no bolso e tirou a moeda de ouro. Ele deixou seus instintos assumirem, lançando a moeda no ar como já tinha feito milhares de vezes. Ele a capturou na palma da mão, e de repente estava segurando uma espada – uma arma perversamente afiada de dois gumes. O cunho coube perfeitamente em seus dedos, e tudo era puro ouro – cabo, cunho e lâmina.

Dylan rosnou e se apoiou para levantar. Ele olhou para seus dois comparsas e gritou, “E então?! Matem-no!”

Os outros espíritos de tempestade não pareceram felizes com aquela ordem, mas voaram em direção a Jason com seus dedos faiscando eletricidade.

Jason se atirou contra o primeiro espírito. Sua lâmina atravessou o espírito e a forma esfumaçada da criatura se desintegrou. O segundo espírito atirou um raio, mas a espada de Jason absorveu a carga. Jason se moveu para frente – uma rápida investida, e o segundo espírito de tempestade se dissolveu em pó dourado.

Dylan se lamentou indignado. Ele olhou para baixo como se esperasse que seus comparsas se reestruturassem, mas o pó dourado continuou disperso no ar. “Impossível! Quem é você, meio-sangue?”

Piper estava tão aturdida que deixou o taco cair. “Jason, como…?”

Então o Treinador Hedge saltou de volta no observatório e derrubou Leo como se fosse um saco de farinha.

“Espíritos, temam a mim!” Hedge berrou, flexionando seus braços curtos. Então ele olhou em volta e percebeu que só havia o Dylan.

“Maldição, menino!” ele se virou para Jason. “Você não deixou alguns para mim? Eu gosto de desafios!”

Leo se levantou, respirando com dificuldade. Ele parecia completamente humilhado, suas mãos sangrando de escalar as pedras. “Ei, Treinador SuperCabra, ou o que quer você seja – eu acabei de cair do maldito Grand Canyon! Pare de pedir por desafios!”

Dylan sibilou para eles, mas Jason podia perceber medo nos olhos dele. “Vocês não fazem ideia de quantos inimigos vocês despertaram, meio-sangues. Minha mestra irá destruir todos os semideuses. Esta guerra vocês não podem vencer.”

Acima deles, a chuva se explodiu em uma tempestade com força total. Rachaduras apareceram no observatório. Lençóis de água caíam, e Jason teve que se abaixar para manter o equilíbrio.

Um buraco se abriu entre as nuvens – um turbilhão de preto e prateado.

“Minha mestra me chama de volta!” Dylan gritou de alegria. “E você, semideus, virá comigo!”

Ele investiu contra Jason, mas Piper atacou o monstro por trás. Mesmo ele sendo feito de fumaça, Piper de alguma maneira conseguiu se conectar. Os dois começaram a cair. Leo, Jason e o treinador se inclinaram para ajudar, mas o espírito gritou com ódio. Ele jogou uma corrente de ar que derrubou todos eles. A espada de Jason derrapou entre o vidro. Leo bateu a parte de trás da cabeça e se encolheu um canto, atordoado e gemendo. Piper recebeu o pior. Ela foi arrancada das costas de Dylan e bateu na grade, caindo na borda até que ela estava pendurada por uma mão sobre o abismo.

Jason se moveu em direção a ela, mas Dylan gritou, “Eu vou me vingar por essa!”

Ele agarrou o braço de Leo e começou a subir, arrastando um Leo semi-consciente com ele. A tempestade rodopiou com mais força, puxando eles para cima como um aspirador de pó.

“Socorro!” Piper gritou. “Alguém!“

Ela, então, escorregou, gritando enquanto caía.

“Jason, vá!” Hedge gritou. “Salve-a!”

O treinador se lançou contra o espírito com alguns golpes fortes de Bode Fu – atacando-o com seus chifres, liberando Leo do poder do espírito. Leo caiu são e salvo no chão, mas Dylan agarrou o braço do treinador em troca. Hedge tentou cabecear ele, e então o chutou e o chamou de queridinho. Eles se levantaram no ar, ganhando velocidade.

O Treinador Hedge gritou mais uma vez, “Salve-a! Eu cuido disso!” Então o sátiro e o espírito de tempestade rodopiaram entre as nuvens e desapareceram.

Salvar ela? Jason pensou. Ela está morta!

No entanto, outra vez seus instintos venceram. Ele correu para a grade pensando, Eu sou louco, e pulou de lado.

Jason não estava com medo da altura. Ele estava com medo de ser esmagado no chão do desfiladeiro, mil e quinhentos metros abaixo. Ele percebeu que não tinha conseguido nada, exceto morrer junto com Piper, mas jogou os braços para a frente e caiu de cabeça. As bordas do desfiladeiro passavam por ele como num filme em velocidade acelerada. Seu rosto parecia que estava descascando.

Num piscar de olhos, ele alcançou Piper, que caía descontroladamente. Ele segurou a cintura dela e fechou os olhos, aguardando a morte. Piper gritou. O vento assobiou no ouvido de Jason. Ele imaginou como seria morrer. Ele estava pensando, provavelmente não era muito bom. Ele desejou que de alguma forma eles nunca batessem no chão.

De repente, o vento parou. O grito de Piper se transformou em um suspiro estrangulado. Jason pensou que eles deveriam estar mortos, mas não sentiu impacto nenhum.

“J-J-Jason,” Piper murmurou.

Ele abriu os olhos. Eles não estavam mais caindo. Estavam flutuando no meio do ar, trezentos metros acima do rio.

Ele abraçou Piper com força, e ela se reposicionou de forma que também estava abraçando ele. Eles estavam de frente, nariz a nariz. O coração dela batia tão forte que Jason podia sentir através da roupa dela.

O hálito dela cheirava a canela. Ela disse, “Como você—”

“Eu não fiz nada,” ele respondeu. “Acho que eu saberia se soubesse voar…”

Então ele pensou: Eu não sei nem mesmo quem eu sou.

Ele pensou estar subindo. Piper ganiu conforme eles começavam a ir para cima. Eles não estavam exatamente flutuando, Jason decidiu. Ele podia sentir a pressão embaixo dos pés como se eles estivessem balançando em cima de um cilindro a gás.

“O ar está ajudando a gente,” ele disse.

“Bem, diga a ele para ajudar mais! Tira a gente daqui!”

Jason olhou para baixo. A coisa mais fácil a fazer seria descer tranquilamente até o chão do desfiladeiro. Então ele olhou para cima. A chuva tinha parado. As nuvens não pareciam tão violentas, mas ainda estava trovejando e piscando. Não havia garantia de que os espíritos tinham sumido de vez. Ele não fazia ideia do que tinha acontecido ao Treinador Hedge. E ele tinha deixado Leo lá em cima, semi-inconsciente.

“Nós temos que ajudá-los,” Piper disse, como se lesse os pensamentos dele. “Você pode—“

“Vamos ver.” Jason pensou para cima, e instantaneamente eles foram em direção ao céu.

O fato dele estar escalando o ar seria algo legal em outras circunstâncias, mas ele estava extremamente em choque. Assim que eles alcançaram o observatório, correram em direção ao Leo.

Piper virou Leo, e ele grunhiu. O casaco dele de exército estava ensopado pela chuva. Seu cabelo cacheado brilhava a ouro por rolar em pó de monstro. Mas pelo menos ele não estava morto.

“Estúpido… bode… feio,” ele murmurou.

“Aonde ele foi?” Piper perguntou.

Leo apontou para cima. “Nunca voltou. Por favor, diga que ele não salvou mesmo a minha vida.”

“Duas vezes,” Jason falou.

Leo grunhiu ainda mais alto. “O que aconteceu? O cara tornado, a espada de ouro… eu bati a minha cabeça. Foi isso, certo? Estou alucinando?”

Jason tinha esquecido a espada. Ele foi até onde ela estava e a pegou. A lâmina estava bem balanceada. Numa intuição ele a girou. No meio da volta, a espada se transformou novamente em uma moeda e pousou na sua palma.

“É,” Leo disse. “Definitivamente alucinando.”

Piper se arrepiou por causa da roupa molhada pela chuva. “Jason, aquelas coisas—“

“Venti,” ele disse. “Espíritos de tempestade.”

“Tá. Você agiu como… como se você já tivesse visto eles antes. Quem é você?”

Ele balançou a cabeça. “É isso que eu estava tentando te dizer. Eu não sei.”

A tempestade parou. As outras crianças da Wilderness School olhavam para as portas de vidro horrorizadas. Os guardas de segurança estavam mexendo nas fechaduras, mas não pareciam estar conseguindo nada.

“O Treinador Hedge disse que tinha que proteger três pessoas,” Jason lembrou.  “Eu acho que ele estava falando da gente.”

“E aquela coisa em que o Dylan se transformou…” Piper tremeu. “Meu Deus, eu não acredito que ele estava me passando cantadas. Ele chamou a gente de… como era, semideuses?”

Leo se deitou de costas no chão, olhando para o céu. Ele não parecia ansioso para levantar. “Não sei o que semi significa,” ele disse. “Mas eu não estou me sentindo muito divino não. Vocês estão?”

Houve um som quebradiço como de galhos secos estalando, e as rachaduras no observatório começaram a aumentar.

“Nós precisamos sair daqui,” Jason falou. “Talvez se nós—“

“Aaaah tá,” Leo interrompeu. “Olhem para cima e me digam se aquilo são cavalos voadores.”

De início Jason pensou que Leo tinha batido a cabeça forte demais. Só que então ele viu uma silhueta escura descendo do leste – devagar demais para ser um avião, grande demais para ser um pássaro. Conforme foi se aproximando, ele pôde ver um par de animais alados – cinza, de quatro patas, exatamente como cavalos — exceto pelo fato de que cada um tinha asas de seis metros. E eles estavam puxando uma caixa pintada com duas rodas: uma biga.

“Reforços,” ele disse. “Hedge disse que um pelotão de extração estava vindo atrás da gente.”

“Pelotão de extração?” Leo se levantou. “Isso parece doloroso.”

“E para onde eles vão extrair a gente?” Piper perguntou. Jason observou a biga pousar na ponta do observatório. Os cavalos alados dobraram suas asas e galoparam nervosamente através do vidro, como se sentissem que estava quase quebrando. Dois adolescentes estavam na biga — uma loira alta talvez um pouco mais velha que Jason, e um cara largo com a cabeça raspada e um rosto como uma pilha de tijolos. Os dois usavam calças jeans e camisetas laranjas, com escudos guardados nas costas. A garota pulou antes mesmo da biga parar de andar. Ela pegou uma faca e correu em direção ao grupo de Jason enquanto o cara largo controlava os cavalos.

“Onde ele está?” a garota demandou. Seus olhos cinzentos eram ferozes e um pouco assustadores.

“Onde está quem?” Jason perguntou.

Ela franziu o cenho como se a resposta dele fosse inaceitável. Então ela se virou para Leo e Piper. “E o Gleeson? Onde está o seu protetor, Gleeson Hedge?”

O primeiro nome do treinador era Gleeson (Nota do PJ-BR: Gleeson pode significar filho do brilho – assim como Jackson é filho do Jack, Williamson, filho do Willian etc)? Jason teria rido se a manhã não tivesse sido tão estranha e assustadora. Gleeson Hedge: técnico de futebol, homem bode, protetor de semideuses. Claro. Por que não?

Leo pigarreou. “Ele foi capturado por algumas… coisas-tornado.”

“Venti,” Jason disse. “Espíritos de tempestade.”

A menina loira levantou uma sobrancelha. “Você quer dizer anemoi thuellai? Esse é o termo grego. Quem é você e o que aconteceu?”

Jason se esforçou ao máximo para explicar, embora fosse difícil encarar aqueles olhos cinzentos tão intensos. Mais ou menos no meio da história, o outro cara da biga se aproximou. Ele ficou lá encarando eles, seus braços cruzados. Ele tinha uma tatuagem de arco-íris no bíceps, o que parecia um pouco atípico.

Quando Jason terminou a história, a garota loira não parecia satisfeita. “Não, não, não! Ela me disse que ele estaria aqui. Ela disse que se eu viesse aqui, encontraria a resposta.”

“Annabeth,” o cara careca gruniu. “Olha só.” Ele apontou para o pé de Jason.

Jason não tinha parado para pensar a respeito, mas ele ainda estava sem seu sapato esquerdo que tinha sido arrancado pelo raio. Seu pé livre estava bem, mas parecia um pedaço de carvão. “O cara com um sapato só,” disse o cara careca. “Ele é a resposta.”

“Não, Butch,” a garota insistiu. “Ele não pode ser. Eu fui enganada.” Ela olhou para o céu como se ele tivesse feito algo errado.  “O que vocês querem de mim?“ ela gritou. “O que vocês fizeram com ele?”

O céu tremeu, e os cavalos relincharam urgentemente.

“Annabeth,” disse o cara careca, “Butch, “nós temos que ir. Vamos levar esses três pro acampamento e tentar descobrir lá. Aqueles espíritos de tempestade podem voltar.”

Ela exasperou-se por um momento. “Ótimo.” Ela encarou Jason com um olhar ressentido. “Nós vamos resolver isso depois.” Ela girou o corpo pelo calcanhar e marchou em direção à biga.

Piper balançou a cabeça. “Qual é o problema dela? O que tá rolando?”

“Sério mesmo,” Leo concordou.

“Nós precisamos tirar vocês daqui,” Butch disse. “Eu explico no caminho.”

“Eu não vou a lugar nenhum com ela.” Jason apontou em direção à loira. “Ela me olha como se quisesse me matar.”

Butch hesitou. “Annabeth é tranquila. Você tem que dar uma folga pra ela. Ela teve uma visão dizendo a ela para vir aqui, para achar um cara com um sapato só. Essa deveria ser a resposta para o problema dela.”

“Qual problema?” Piper perguntou.

“Ela está procurando por um dos nossos campistas, que está desaparecido há três dias,” Butch disse. “Ela está perdendo a cabeça de preocupação. Ela esperava que ele estivesse aqui.”

“Quem?” Jason perguntou.

“O namorado dela,” Butch disse. “Um cara chamado Percy Jackson.”

                                                                                                                                                            Creditos à Percy Jackson Brasil        

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